É verdade que os comportamentos repetitivos são sinais comuns e característicos do autismo. Também conhecido como estereotipias, estão relacionadas aos movimentos recorrentes linguísticos, motores e até postural do indivíduo.
A manifestação desse sintoma, inclusive, costuma ser a primeira imagem associada quando pensamos em uma pessoa autista.
Para quem observa, podem até parecer sem explicação e motivo aparente, mas, na verdade, esses movimentos funcionam como uma válvula de escape para o excesso de estímulos.
Mas afinal, o que é a estereotipia? São benéficos ou prejudiciais? Como influenciam os pacientes autistas? Acompanhe a leitura e descubra as respostas sobre a relação dos comportamentos repetitivos com o autismo.
Comportamentos repetitivos é autismo?
A estereotipia, ou comportamentos repetitivos, são definidos como atitudes e movimentos estereotipados e constantes, que acontecem como uma forma de manifestar e regular as emoções.
Essa manifestação, por sua vez, pode ser motora, verbal ou emocional. Como agitar as mãos, apertar repetidamente o botão da caneta ou até mesmo repetir sons e palavras.
No caso de pacientes com o espectro autista, as estereotipias fazem parte da sua vida e cotidiano. Estima-se que até 45% das crianças com autismo desenvolvem pelo menos um tipo de estereotipia.
Costumam acontecer em situações em que o indivíduo se sente super estimulado e os comportamentos repetitivos o ajudam a manifestar esse estado e aliviar a sobrecarga sensorial.
Ou seja, quando algum autista sente uma repentina onda de sentimentos, a estereotipia fornece uma saída para essa energia.
São momentos que, independente de serem emoções positivas ou negativas, envolvem gatilhos relacionados aos sentimentos de felicidade e estresse, pensamentos ansiosos, ambientes barulhentos, entre outros. Os comportamentos repetitivos mais comuns de se observar no autismo envolvem:
- Agitar as mãos (flapping) e os braços;
- pular, girar e bater palmas;
- balançar o corpo para frente e para trás;
- girar e alinhar objetos;
- repetir sons ou palavras;
- perguntas repetitivas;
- fazer sons e gritar sem motivo reconhecido;
- andar na ponta dos pés;
- pernas inquietas;
- roer unhas;
- olhar objetos fixamente;
- movimentar os dedos na frente dos olhos; e
- movimentos em atividades como desenhar ou rabiscar uma folha.
Em casos mais graves, alguns autistas podem desenvolver estereotipias negativas, isto é, quando podem causar problemas físicos e lesivos para o indivíduo ou para outras pessoas ao redor.
É o caso de quando a criança bate a cabeça contra a parede ao se sentir pressionado e nervoso. Nestas circunstâncias, é primordial que haja acompanhamento médico e psicológico para controlar o comportamento lesivo.
Estereotipias podem ser positivas
É necessário destacar que os comportamentos repetitivos não devem ser reprimidos e nem ser vistos com maus olhos.
Não importa qual seja a situação, salvo casos mais extremos, as estereotipias são uma maneira de acalmar, concentrar e aliviar a ansiedade.
Apesar dos benefícios, a alta frequência de alguns movimentos repetitivos podem causar estranhamento e dificultar o convívio social.
Isso ocorro, pois o autista costuma focar nestas ações e deixa de interagir com o ambiente e estímulos externos, se destoando do comportamento da maioria.
Diante disso, crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista podem enfrentar problemas de aceitação social, ser alvo de piadas e sofrer bullying, principalmente na época escolar.
Por isso, é importante termos empatia e não darmos uma conotação negativa a esses comportamentos, pois os mesmos não possuem controle consciente das ações. Da mesma forma como várias pessoas possuem o hábito de roer as unhas, por exemplo.
Como lidar com os comportamentos repetitivos?
Para lidar com os comportamentos repetitivos, o primeiro passo é buscar compreender as razões para que elas aconteçam.
São diversas as estratégias que podem ser ministradas por uma equipe multidisciplinar, que inclui: terapia cognitivo-comportamental, métodos de estimulação de linguagem com fonoterapeutas e a atenuação de condições associadas com o uso de medicação.
O objetivo das intervenções, por sua vez, não deve ser cessar ou reprimir os comportamentos repetitivos, mas de ressignificar as ações e ensiná-los a regular com uma finalidade social. Nesse processo, a pessoa aprende a:
- Identificar situações que desencadeiam as estereotipias;
- ter mais consciência dos seus comportamentos;
- gerenciamento emocional; e
- controle comportamental.
Além disso, é fundamental o paciente contar com o suporte emocional de pais, familiares e cuidadores durante todo o processo. A fim de estimular o desenvolvimento da autoestima e confiança do autista.

Não é um sinal exclusivo do autismo
Apesar de ser facilmente associado ao autismo, é importante ressaltar que os comportamentos repetitivos não são exclusivos do espectro. Eles também podem se manifestar em quem sofre com outros distúrbios neurológicos, como:
- Transtorno no déficit de atenção e hiperatividade (TDAH);
- transtorno obsessivo compulsivo (TOC); e
- síndrome de Tourette.
No entanto, em pacientes do espectro autista esse quadro acaba sendo mais acentuado. Além disso, pessoas neurotípicas, ou seja, que possuem desenvolvimento neurológico considerado “normal” pela sociedade, também podem apresentar as estereotipias, como estalar os dedos e balançar as pernas.
Nestes casos, os movimentos repetitivos costumam ser socialmente aceitos, já que neurotípicos tendem a ter um maior controle destes comportamentos, principalmente em público.
Assim, podemos dizer que qualquer indivíduo pode manifestar comportamentos repetitivos como forma de autorregulação.
Como diferenciar o motivo do movimento repetitivo?
Esse é um dos desafios do diagnóstico do espectro autista que, muitas vezes, pode ser confundido erroneamente como TDAH ou Síndrome de Tourette. Apesar da similaridade dos sinais inicias, há atitudes comportamentais que podem indicar a diferença.
Para diferenciar os comportamentos repetitivos do autismo de outros distúrbios, é preciso primeiro compreender a razão por trás de cada ação. Assim como realizar uma avaliação dos demais sintomas associados.
Por exemplo, tanto no autismo quanto no TDAH, os indivíduos possuem dificuldade em seguir regras. Mas, no caso do autista, ele desconhece a regra e as infringe sem consciência. No caso do autista, ele conhece a regra, mas é impulsivo.
Além disso, pacientes autistas, ao entrar em crise, possuem a tendência a se isolar e centrar-se naquilo que está chamando a sua atenção. Ao contrário dos demais, que geralmente são mais expressivos em situações de desconforto e se desconcentram facilmente.
Estima-se que cerca de 85% dos pacientes que sofrem a síndrome de Tourette tem uma condição concomitante. Entre elas, o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, ansiedade e depressão, e desordens do espectro autista.
Então, cada indivíduo deve ser avaliado para que se entenda a razão e função do comportamento repetitivo e, por fim, seja realizado um diagnóstico e proposto um programa de intervenção.

Quais os outros sintomas de autismo?
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um distúrbio psiquiátrico que afeta o desenvolvimento neurológico. Ou seja, é resultado de uma série de alterações no funcionamento normal do cérebro.
Caracterizada por afetar as áreas da comunicação, interação social e comportamento, os pacientes com tendência autista podem manifestar sinais e sintomas como:
- Dificuldade de linguagem e aprendizado;
- atraso ou dificuldade na coordenação motora;
- necessidade de rotina rigidamente controlada;
- falta ou ausência de contato visual;
- comportamentos repetitivos; e
- dificuldade de sociabilização.
Vale ressaltar que todos os autistas costumam apresentar estes sintomas em comum, mas cada um pode ser afetado de maneira e intensidade diferentes.
Diante disso, são classificados em três níveis diferentes: autismo leve (nível 1); autismo moderado (nível 2); e autismo severo (nível 3).
Isto é, ao mesmo tempo que alguns conseguem levar uma rotina relativamente normal, outros podem necessitar de assistência médica durante toda a vida em função dos sintomas do TEA.
Os primeiros sinais, no geral, aparecem ainda crianças, entre dois e três anos de idade. Esse é o momento em que inicia-se um maior convívio e comunicação com outras pessoas e com o ambiente.
Por isso, é preciso muita atenção ao comportamento da criança durante este período da vida. Com a intenção de conseguir identificar precocemente, os sintomas do transtorno do espectro autista.
Procure um médico para o diagnóstico correto
Ao notar uma alta frequência dos comportamentos repetitivos, e suspeita de um diagnóstico de autismo, a orientação é sempre consultar o médico e obter um diagnóstico correto.
Nesse momento, é muito importante o suporte de uma equipe de profissionais qualificados e de confiança. Neurologistas e psiquiatras são as especialidades mais indicadas para atender pessoas com TEA.
Além da avaliação dos sintomas, o diagnóstico requer conversas com os responsáveis e observação clínica e comportamental do paciente. Como avaliar suas habilidades sociais, de comunicação, rotina e autonomia para atividades diárias, entre outros.
Quanto mais precoce o diagnóstico, maiores serão as chances de sucesso no manejo e tratamento e mais qualidade de vida e capacidade de desenvolvimento se garante ao paciente.
Neste artigo, você entendeu melhor sobre a relação dos comportamentos repetitivos e o autismo. Continue acompanhando o nosso blog e redes sociais, e mantenha-se informado sobre o assunto.
Referências
What You Need to Know About Stimming and Autism. By WebMD Editorial Contributors.
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