Dores Crônicas, Saúde

Dores Crônicas: conheça as causas, tipos e tratamentos

Lidar com dores crônicas pode ser uma difícil e longa jornada. Afinal, conviver com uma dor que parece não ter fim, traz sentimentos de desesperança, desânimo e irritabilidade à tona. 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 30% da população mundial sofre com alguma dor crônica. Quando olhamos para o Brasil, pelo menos 37%, aproximadamente, 60 milhões de pessoas, sentem algum tipo desse desconforto, segundo estudos

Mas o que é dor crônica? Para você entender mais sobre o assunto, vamos explicar as causas, tipos e opções de tratamento no texto a seguir. Confira!

O que são dores crônicas?

Infográfico sobre ciclo da dor no âmbito psicológico e físico. Imagem ilustrativa texto dores crônicas
Reações do corpo físico e psicológico às dores.

Primeiramente, é preciso entender a definição de dor. Apesar de ser um problema tão comum, essa é uma sensação particular. Precisamos considerar que cada organismo reage a esses estímulos de uma maneira única. 

A Associação Internacional para o Estudo da Dor(IASP) define a dor como “uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada ao dano tecidual real ou potencial, ou descrita em termos de tais danos”. 

Resumidamente, podemos dizer que esse desconforto atua como um sinal de alerta de que algo não está bem no corpo. Mas, isso se torna persistente, a ponto de provocar reações incômodas e constantes, fique atento, pois seu caso pode ser definido como dor crônica.  A seguir, listamos alguns sintomas comuns: 

  • Persistir por mais de três meses;
  • durar mais de um mês após resolução da lesão ou problema que originalmente causou a dor; 
  • ocorrer e desaparecer novamente por meses ou anos; e
  • estar associada a uma doença crônica (como câncer, artrite, diabetes ou fibromialgia).

Apesar da maioria dos casos ser sintoma de doenças existentes, a dor pode não ter nenhuma causa detectável por meio de consultas e exames. Desta forma, é considerada como uma doença.

Entre as dores crônicas mais comuns estão as da região da lombar, nas articulações, rosto, boca, pescoço, dores de cabeça e enxaquecas. 

Problemas que a dor crônica pode causar

Primeiramente, podemos definir dor crônica como um problema que traz consequências físicas, psicológicas e comportamentais. Afinal, por ser constante e persistente é capaz de interferir em quase todas as atividades do nosso dia a dia. 

Segundo estatísticas da National Institute of Neurological Disorders and Strokes, a dor contínua afeta a qualidade de vida de dois em cada cinco adultos, impactando na saúde, as emoções, o sono e a capacidade de trabalho das pessoas. 

Dessa forma, é comum que os portadores desenvolvam outros problemas como depressão, ansiedade e deficiências psicomotoras. Sem contar nos sinais como cansaço, distúrbios do sono, diminuição do apetite, entre outros. 

No âmbito social, a dor crônica também pode causar prejuízos. Afinal, a rotina dos pacientes é afetada, provocando irritabilidade, agressividade e ainda ter o convívio social extremamente abalado. 

Qual a diferença entre dor crônica, aguda e fibromialgia?

Quando falamos de dor, é comum que haja confusão entre dor crônica, aguda ou fibromialgia. Isso acontece, pois é difícil precisarmos exatamente o ponto uma dor aguda se transforma em crônica.

Resumidamente, a dor aguda aparece alertando sobre algo de errado. Podemos exemplificar como um pequeno corte, ou dor causada por mau jeito etc.

Enquanto isso, a crônica não possui a mesma função de aviso, sendo considerada uma doença. Com isso, é necessário fazer um tratamentos específicos para tratá-la.

Assim, entramos nas distinções de dores, cujo tratamento e causas se diferem. Vamos entender melhor cada uma delas? 

Dor aguda

No geral,  a dor aguda é tida como uma reação rápida do organismo, sendo resultado de uma doença, lesão de tecidos ou inflamação. Dessa forma, a dor tem um tempo determinado, podendo ser momentânea, ou mesmo se estender por até três meses. 

Esse tipo de dor apresenta respostas satisfatórias aos tratamentos e desaparece por completo. Isto é, apesar da pessoa ficar frustrada pelas limitações causadas no período, ela cessa. 

Cólicas menstruais, renais, dores nas costas, distensões musculares, torções, quedas, queimaduras e cortes na pele, são alguns dos exemplos de dores agudas. Com relação ao tratamento, o uso de medicações, repouso e fisioterapia estão entre as principais opções, até a retomada da normalidade. 

Gráfico comparativo de intensidade e duração entre dor aguda e dor crônica. Imagem ilustrativa dores cronicas
Fonte: De Marcus DA. Headache and chronic pain syndromes. The case-based guide to targeted assessment and treatment. Totowa, NJ: Humana Press; 2007

Dor da Fibromialgia

A fibromialgia é uma doença que se caracteriza pela dor muscular generalizada e crônica, mas que não apresenta evidência de inflamação nos locais de dor.

Até poucos anos atrás, esse era um desconforto considerado “imaginário”. Mas, exames e pesquisas recentes apontaram que elas são causadas por uma disfunção no cérebro que amplifica os impulsos dolorosos.

Mesmo assim, a fibromialgia possui origem ainda desconhecida. Mas sabe-se que não causa danos às articulações, aos músculos, ou órgãos internos. 

Apesar de não haver cura, a doença não é progressiva e nem fatal, e ainda quando devidamente tratada, os sintomas podem ser minimizados e até desaparecerem. 

Sinais que podem indicar uma dor crônica

Como vimos, às vezes, o que originaliza a dor pode ser óbvia, mas nem sempre é assim. Ela também pode ser desconhecida, como no caso das pessoas que sofrem com enxaqueca.

Porém, na maioria dos casos, a dor contínua é o principal sinal do corpo, fazendo com que o quadro seja identificado pela própria pessoa. 

Além disso, quem sofre com dor crônica frequentemente sente-se cansada, apresenta problemas para dormir, sensibilidade à dor, dores locais, perda de apetite e/ou gosto pela comida, e perda de peso. No geral, esses problemas se desenvolvem gradualmente. 

Como as dores crônicas são causadas?

A dor crônica, originada do sistema nervoso central, é um quadro que ocorre em virtude de disfunções pré-existentes, o que a torna permanente e mais resistente aos tratamentos.

A depressão, consumo excessivo de álcool e tabagismo são alguns dos fatores que têm sido associados à presença de dor crônica. Outras razões podem estar relacionada a idade, peso corporal, sexo e etnia.

Nesse sentido, as causas para esta patologia podem ser diversas, desde origem psicológica, genética, hormonal ou até mesmo postural, de acordo com os fatores de risco a seguir:

  • Mulheres;
  • idade — a prevalência da dor tende a aumentar até aos 60-65 anos;
  • excesso de peso e obesidade;
  • localização anatômica — zonas lombar e cervical, cabeça e os membros são as regiões mais afetadas;
  • ansiedade e transtornos depressivos;

Gênero feminino 

Segundo dados da Harvard Health Publishing, 70% das pessoas afetadas pela dor crônica são mulheres. Isso acontece, pois elas são mais vulneráveis às dores crônicas devido a questões comuns do universo feminino como disfunções hormonais, uso de salto alto, menopausa e aspectos ligados à gravidez. 

Ou seja, durante a gestação, ao apresentarem deslocamento na coluna cervical, desenvolvem dor crônica lombar. Outra possibilidade é o rápido aumento do peso corporal que nessa fase pode provocar alterações funcionais das articulações da mulher, o que eleva o risco de desenvolver dores crônicas. 

Psicológico e emocional 

Os fatores psicológicos e emocionais podem ser “causa e efeito” quando se trata de dor crônica. Isso acontece, pois as moléculas do sistema nervoso central, chamadas de micróglias, viram substâncias inflamatórias quando estressadas e resultam na dor constante e persistente.

Assim, pacientes melancólicos, ansiosos e depressivos também estão mais propensos ao problema e apresentam maior dificuldade de resposta às terapias medicamentosas. 

Histórico médico

Geralmente, o histórico familiar de doenças crônicas aumenta as possibilidades da pessoa desenvolver essa patologia. Além disso, pacientes sem causa evidente, costumam apresentar relatos de tratamentos médico e cirúrgico que falharam, testes diagnósticos múltiplos e uso de vários fármacos. 

Principais tipos de dores crônicas

Homem segurando as costas com coluna desenhada e em destaque. Imagem ilustrativa texto dores crônicas
A dor crônica pode atingir diferentes partes do corpo.

Existem três principais tipos de dores crônicas, que foram subdivididas de acordo com o local de origem e os efeitos que causam no organismo. São elas:

  • Neuropática;
  • nociceptiva;
  • mista ou inespecífica. 

Dor Neuropática 

A dor neuropática, também conhecida como somática, é associada a distúrbios do sistema nervoso central, seja no cérebro, nervos periféricos ou medula espinhal. O sintoma pode aparecer em forma de “agulhadas”, formigamento ou queimação. 

Entre as possíveis causas, destaca-se as pessoas que sofrem com neuropatia diabética, estreitamento do canal medular, AVC e outras enfermidades.

Dor Nociceptiva 

A dor nociceptiva é aquela que surge devido a uma lesão ou inflamação dos tecidos da pele, que é detectado pelo sistema nervoso como um problema e persiste enquanto a situação não for resolvida. 

Em geral, é desencadeada por queimaduras, pancadas, entorse, infecção, tendinite, entre outras causas. 

Dor mista ou inespecífica

É a dor provocada tanto por distúrbios somáticos quanto por neuropatias, ou então, por causas desconhecidas.

Dores de cabeça, hérnia de disco, câncer, vasculite e osteoartrose são algumas das possíveis causas que podem atingir diversos locais pelo corpo.

Tratamentos para dor crônica

Uma dor que perdura por mais de meses no corpo não costuma ter uma solução simples. Por isso, os tratamentos para dor crônica envolvem uma série de cuidados específicos e interdisciplinares, que podem variar de acordo com as necessidades de cada pessoa. 

Em geral, além do uso de analgésicos e anti-inflamatórios, tratamentos psicológicos e comportamentais também são vantajosos.

É importante destacar que sempre que você sentir uma dor persistente por mais tempo que o normal, é primordial procurar atendimento médico para realizar uma avaliação que irá determinar os procedimentos mais indicados para cada caso. Dito isso, as principais formas de tratamento incluem: 

Uso de medicamentos

Diversos medicamentos, como anti-inflamatórios, antidepressivos, analgésicos ou anticonvulsivantes, podem ser usados no tratamento de pessoas com dores crônicas para aliviar os fatores que possam estar provocando-a. 

Além disso, pesquisas da National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine mostram que o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC), substâncias extraídas da Cannabis sativa, também podem auxiliar no tratamento de dor crônica. Isso porque, seu potencial analgésico serve para aliviar sintomas ligados a doenças do sistema nervoso central.

Fisioterapia e Pilates

A fisioterapia pode ser indicada para auxiliar nas dores crônicas, principalmente quando há limitação do movimento. Assim, os exercícios fisioterápicos promovem alongamentos e fortalece a musculatura, restabelecendo a funcionalidade do corpo e aliviando os sintomas. 

O Pilates, assim como outras atividades físicas, também podem provocar o mesmo estímulo, permitindo uma amplitude dos movimentos e reduzindo o nível de dor por meio de exercícios de relaxamento. 

Terapias alternativas

As terapias alternativas buscam aliviar a tensão e os estímulos nervosos do organismo, que têm grande influência sobre a dor. Além de estimular a liberação de substâncias responsáveis pelo bem-estar corporal, ajudando no controle das dores musculares crônicas.

Dentre elas, algumas opções são: a terapia cognitiva comportamental, massagens, acupuntura e agulhamento, e técnicas de relaxamento. 

Opção da Cirurgia 

Em casos específicos, a intervenção cirúrgica pode ser recomendada a alguns pacientes, com técnicas convencionais ou minimamente invasivas. 

Geralmente, essa é uma forma de tratamento quando outras tentativas já foram realizadas, mas sem sucesso. Os exemplos incluem casos de hérnias de disco e demais complicações da coluna, traumas ósseos, dentre outros.  

Como conviver com dor crônica?

O maior desafio para quem sofre com dor crônica é manter a qualidade de vida, tanto física, quanto emocional. Mas, saiba que apesar de ser uma patologia de difícil solução, não é o fim do mundo. Pelo contrário, existem diversas maneiras de aliviar os sintomas e conviver com a dor crônica. 

Para isso, é fundamental investir em uma vida mais saudável, mais ativa e significativa. Uma mudança de hábitos influenciará nos resultados do tratamento indicado e na maneira como a dor será encarada. 

Confira algumas práticas que podem ajudar você:

  • Evitar o excesso de peso, pois ele sobrecarrega as articulações e as células de gordura são inflamatórias;
  • seguir uma dieta anti-inflamatória, que pode ajudar com dores crônicas e fadiga. Ou seja, evite a ingestão de alimentos processados, carnes curadas e vermelhas, amidos refinados, açúcares e refrigerantes; 
  • aumentar a ingestão de alimentos ricos em antioxidantes, principalmente frutas e vegetais, que podem reabastecer os neurotransmissores do cérebro;
  • praticar atividades físicas que dê prazer e seu corpo aguente;
  • mantenha-se socialmente engajado, já que o isolamento social pode piorar os sintomas e a dor; e
  • experimentar técnicas de meditação e gerenciamento de estresse, como yoga e respiração profunda.

Ao longo do texto, você pôde entender as causas, tipos e tratamentos das dores crônicas, que afetam a vida de milhares de brasileiros.

Mas é importante ressaltar que o diagnóstico correto e seus respectivos tratamentos devem ser sempre ministrados por médicos especialistas.

Gostou do nosso conteúdo sobre dores crônicas e as dicas que oferecemos? Continue acompanhando o nosso blog e redes sociais, e mantenha-se informado.

Referências

Bonfá, Laura, Vinagre, Ronaldo Contreiras de Oliveira e Figueiredo, Núbia Verçosa de uso de canabinóides na dor crônica e em cuidados paliativos. Revista Brasileira de Anestesiologia [online]. 2008, v. 58, n. 3 https://doi.org/10.1590/S0034-70942008000300010

Classification of chronic pain. Descriptions of chronic pain syndromes and definitions of pain terms. Prepared by the International Association for the Study of Pain, Subcommittee on Taxonomy. (1986). Pain. Supplement, 3, S1–S226. 

Descalzi G, Ikegami D, Ushijima T, Nestler EJ, Zachariou V, Narita M. Epigenetic mechanisms of chronic pain. Trends in neurosciences. 2015 Apr 1;38(4):237-46

Hilton L, Hempel S, Ewing BA, Apaydin E, Xenakis L, Newberry S, Colaiaco B, Maher AR, Shanman RM, Sorbero ME, Maglione MA. Mindfulness meditation for chronic pain: systematic review and meta-analysis. Annals of Behavioral Medicine. 2016 Sep 22;51(2):199-213.

Institute for Chronic Pain (2017). What is Chronic Pain? [Online]. Available from: https://www.instituteforchronicpain.org/understanding-chronic-pain/what-is-chronic-pain 

The Health Effects of Cannabis and Cannabinoids: The Current State of Evidence and Recommendations for Research – Committee’s Conclusions.

Veehof MM, Trompetter HR, Bohlmeijer ET, Schreurs KM. Acceptance-and mindfulness-based interventions for the treatment of chronic pain: a meta-analytic review. Cognitive behaviour therapy.

Compartilhe este artigo