Cannabis, CBD, Dores Crônicas, Saúde
Cada vez mais, o uso do CBD para tratar dores crônicas aparece como um grande aliado para quem sofre da doença. Estima-se que, pelo menos, 37% da população brasileira sinta dor de forma crônica, segundo a Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (SBED).
A dor crônica se caracteriza por uma dor persistente por mais de três meses, a ponto de afetar a qualidade de vida do paciente.
Nesse cenário, a Cannabis medicinal vem se destacando como um tratamento promissor no manejo das dores. Tendo em vista sua ação direta no mecanismo central de dor, bem como ação na parte emocional.
O mesmo estudo da SBED, mostra que o alívio da dor crônica é a condição mais citada pelos pacientes que usam a Cannabis, que podem diminuir até 30% nas escalas de dor.
A seguir, você vai entender como o CBD pode ajudar a aliviar os sintomas da dor crônica. Acompanhe a leitura.
Quando CBD para dores crônicas é indicado?
A dor crônica prejudica a qualidade de vida física e emocional do paciente. Dessa forma, exige uma série de cuidados específicos e interdisciplinares ao longo da vida, como o uso de analgésicos e anti-inflamatórios, fisioterapia e terapias alternativas.
No entanto, opções convencionais, como os opióides, nem sempre apresentam resultados satisfatórios no tratamento desta patologia. Esta é, portanto, uma significativa necessidade clínica não satisfeita. Com isso, o canabidiol ganha destaque no alívio desse tipo de dor.
Segundo o relatório The Health Effects of Cannabis and Cannabinoids, de 2017, existem evidências conclusivas ou substanciais de que os canabinóides são eficazes para a dor crônica, como parte da estratégia farmacológica coadjuvante.
Esse efeito ocorre graças ao potencial analgésico e anti-inflamatório das substâncias extraídas da Cannabis sativa, que demonstra melhora nos sintomas ligados a doenças do sistema nervoso central.
Assim, os principais efeitos dos canabinoides para dores crônicas proporcionam:
- melhora da tolerância à dor, relaxamento muscular e analgésico;
- efeitos ansiolíticos e melhora do humor; e
- melhora da qualidade de vida e retorno às atividades diárias.
Os benefícios em relação à dor, rigidez muscular, transtornos ansiosos e de humor, e dores associadas à fibromialgia foram descritos no Handbook of Cannabis and Related Pathologies.
Além disso, há relatos de melhoras consideráveis na qualidade de vida daqueles que sofrem com esclerose múltipla, dor oncológica, dor em lesão medular, dor de cabeça e enxaqueca.
Dor crônica ou fibromialgia
É comum que os pacientes que vivem constantemente com a dor, confundam o diagnóstico com a fibromialgia, diante da similaridade dos sintomas.
Resumidamente, podemos dizer que a dor crônica é um quadro que ocorre em virtude de disfunções pré-existentes, o que a torna permanente e mais resistente aos tratamentos.
Ela pode ter origem neuropática, associada a distúrbios do sistema nervoso central, ou nociceptiva, que surge devido a uma lesão ou inflamação dos tecidos.
Já a fibromialgia é uma doença que se caracteriza pela dor muscular generalizada e crônica, porém sem apresentar evidências de inflamação nos locais de dor.
Benefícios e vantagens de usar cannabis medicinal
Não é de hoje que os efeitos terapêuticos da Cannabis estão sendo reconhecidos na medicina. Afinal, além de ser um produto natural, a Cannabis medicinal oferece menos efeitos adversos, ao contrário dos medicamentos sintéticos já utilizados, sendo uma medicação segura para uso.
Os canabinóides agem diretamente no nosso Sistema Endocanabinoide (SEC) e estimulam os receptores canabinoides presentes nas células do sistema nervoso periférico, sistema imunológico e sistema nervoso central, auxiliando na regulação dos mesmos.
De acordo com a classificação da Kaya Mind, existem cerca de 27 condições médicas, até então, que podem ser favorecidas pelas diferentes propriedades terapêuticas da planta.
Dentre os benefícios, estão o efeito anticonvulsivo, anti-inflamatório, antidepressivo e anti-hipertensivo.
Além de ser usado também na melhoria da qualidade de vida do paciente como um todo, influenciando no sono, humor, memória, apetite, entre outros.
Os produtos à base de Cannabis utilizam os canabinóides, seja de forma isolada ou em comitiva, para garantir os benefícios à saúde, proporcionados pelas substâncias, principalmente o CBD e THC.
É importante ressaltar que apesar de ser uma terapêutica promissora, espera-se que ensaios clínicos randomizados forneçam dados ainda mais positivos acerca da terapia canabinoide.
Diante disso, os principais estudos do uso medicinal da Cannabis em dor são: dores neuropáticas crônicas; fibromialgia; dor e espasticidade em esclerose múltipla; dor em lesão medular; dor oncológica e como coadjuvante para melhora do humor e sono.

Ação na Fibromialgia
A queixa principal dos pacientes com fibromialgia (FM) é a dor crônica generalizada. Entretanto, muitos apresentam sintomas concomitantes, como cansaço, rigidez matinal, sono e distúrbios afetivos.
Além disso, outras alterações são comuns, como problemas de memória e concentração, ansiedade, formigamentos/dormências, depressão, dores de cabeça, tontura e alterações intestinais.
Uma característica do paciente fibromiálgico é a grande sensibilidade ao toque e à compressão de pontos no corpo.
A fisiopatologia da doença é pouco compreendida. Vários mecanismos têm sido sugeridos e o tratamento é baseado no alívio dos sintomas.
Contudo, geralmente os resultados obtidos são modestos e a satisfação geral do paciente e a qualidade de vida relacionada à saúde são consistentemente ruins.
A diversidade de sintomas associados à doença geram debates entre correntes científicas. Alguns afirmam que a fibromialgia seria, na verdade, uma manifestação de um quadro depressivo e não se constituiria numa entidade nosológica distinta.
No que diz respeito à medicina canábica, de acordo com evidências hipotéticas e experimentais, uma deficiência clínica no Sistema Endocanabinoide (SEC) tem sido proposta para estar envolvida na fisiopatologia da FM.
A participação do SEC em múltiplas funções fisiológicas, como modulação da dor, sistema de resposta ao estresse, regulação neuroendócrina e funções cognitivas, entre outras, já é bem conhecida.
Além disso, estudos de psiconeuro-endocrinologia-imunologia (PNEI) mostraram que a dor crônica pode ser influenciada pelas disfunções do sistema de estresse que, por sua vez, também já foi identificado como modulado pelo Sistema Endocanabinóide.
Sendo assim, o uso de substâncias canabinóides pode ser uma alternativa ao tratamento de pacientes com FM.
Dor neuropática
A dor neuropática é frequentemente crônica e difícil de tratar. Ela surge quando os neurônios no cérebro ou sistema nervoso periférico se tornam hipersensibilizados e geram pulsos anormais ou prolongados.
Muitas são as causas para esse tipo de dor, incluindo neuropatia diabética, neuralgia pós-herpética, lesão do plexo braquial, AVC, esclerose múltipla e câncer.
As pesquisas com canabinóides demonstram que, fisiologicamente, essas substâncias são mais eficazes que os opióides no tratamento da dor neuropática. Diferentes hipóteses foram propostas para explicar esse fenômeno.
Um deles é baseado na presença de uma maior concentração de receptores canabinóides do que opióides nas fibras A – estruturas nervosas responsáveis pela transmissão da dor pelo organismo.
Assim, um agonista do receptor canabinóide é um inibidor mais eficaz que, por exemplo, a morfina de fenômenos dolorosos. O wind-up, por sua vez, contribui para o desenvolvimento de hiperalgesia e alodinia.
Outra hipótese para explicar essa maior eficácia dos canabinóides baseia-se no fato de que, diferentemente dos opióides, com o tempo eles não perdem a eficácia no manejo da dor neuropática.
Estudos comportamentais mostraram que os canabinóides reduzem a alodinia (sensação de dor quando o estímulo não é doloroso) térmica e mecânica em modelos de dor neuropática em ratos.
Esses efeitos antinociceptivos parecem ser mediados principalmente pelo receptor CB1. Entretanto, alguns dados também sugerem um papel para a antinocicepção mediada pelo receptor CB2 na dor aguda e neuropática.
THC também pode ser um aliado para tratar dor crônica?
A Cannabis sativa é uma planta herbácea da família das Canabiáceas que conta com mais de 400 substâncias químicas em sua composição, classificados como canabinóides. Entre eles, os mais famosos são o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol.
Apesar da desconfiança da maioria da população com a administração do THC, responsável pelo efeito euforizante no uso recreativo, a substância também possui propriedades medicinais. Entre elas estão as ações ansiolíticas, anti-inflamatórias, imunossupressoras, antivirais, hipotensoras, neuroprotetoras, entre outras.
O papel do THC junto aos linfócitos e nas respostas imunológicas/inflamatórias é alvo de diversos estudos. Experimentos com THC em modelos animais procuram compreender melhor o complexo sistema endocanabinóide e as funções dos receptores CB1 e CB2.
Estudos divulgados pela Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor indicam que o THC inibe a síntese de prostaglandina E e estimula a lipoxigenase, porém não afeta a síntese de cicloxigenase-1 e cicloxigenase-2.
Pesquisas publicadas pelo periódico Frontiers in Pharmacology com modelos animais demonstraram que a administração de THC reduziu a inflamação das vias aéreas em camundongos e reduziu o desenvolvimento de aterosclerose e suas manifestações cardíacas e cerebrais, que nos casos mais graves são respectivamente o infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral.
No entanto, um papel protetor para o bloqueio CB1 também foi observado, reforçando a complexidade da biologia dos canabinóides.
O canabidiol é geralmente o canabinóide não-psicoativo mais abundante na planta, e os análogos do CBD têm sido estudados mais extensivamente nos últimos anos.
Evidências demonstraram que a substância da Cannabis reduziu a inflamação articular na artrite induzida e o edema de pata em camundongos, a dor neuropática e a inflamação intestinal em ratos.
Além disso, demonstrou capacidade de suprimir a produção do fator de necrose tumoral (TNF) α, uma substância altamente relacionada a processos inflamatórios crônicos, doenças autoimunes e ao câncer.
O CBD parece exercer atividade anti-inflamatória suprimindo a atividade da FAAH, enzima que degrada os endocanabinóides, aumentando assim as concentrações do endocanabinóide sabidamente anti-inflamatório anisamida.
Combate aos efeitos do THC
O uso de CBD para alívio de dores crônicas não é a única possibilidade representada pela substância. Outro potencial uso terapêutico do canabidiol pode estar em sua capacidade de combater alguns efeitos indesejáveis do THC (sedação, efeitos psicotrópicos, taquicardia), sugerindo que, se administrado em conjunto com o THC, pode permitir doses mais altas de THC.
Em um estudo da Oxford Academic, o THC e o CBD foram administrados como spray de mucosa oral em 58 pacientes com artrite reumatóide. Os pacientes tratados tiveram redução significativa na dor e melhora no sono em comparação com os pacientes que receberam placebo.
Além de uma ação anti-inflamatória, as substâncias canabinóides também apresentam atividade antioxidante via mecanismos não canabinóides.
Caso você se interesse em adquirir o canabidiol para seu tratamento, sempre consulte e converse com seu médico. Afinal, ninguém melhor que o profissional para avaliar a indicação, assim como a titulação da dosagem ideal e o produto mais adequado para seu caso.
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